quinta-feira, 1 de setembro de 2011

É doce morrer no mar - O autor que eu amo

Acho que esse dia vai me pegar...
Já pegou. Um livro do meu autor ou autora favorito?
Como assim??? Não consigo!!!

Escolher o livro já é quase uma traição, como escolher entre os filhos queridos, ou no meu caso, qual bichinho é o mais querido... Não tem como. O livro eu ainda arrisquei...
Mas o autor??? Como escolher?Tantos, tantos, tantas queridos e queridas...


Durante boa parte da infância, foi Monteiro Lobato.
Depois, Pedro Bandeira.
Depois, José de Alencar...
Descobrir a literatura brasileira...
Machado de Assis, uma paixão...

Depois, Maupassant. Flaubert. Moliére. A fase francesa... Influência de Angélica, a Marquesa dos Anjos.

Hemingway... ah... O velho e o mar, Por quem os sinos dobram, Adeus às armas...

Depois, a fase vampiresca: Anne Rice. Sim, podem me julgar... 

Mas, meu autor favorito...

Jorge.
Ele.
O bahiano.
Quem me fez amar o Brasil.
Amar a Bahia.
Amar o que há de negro em mim, em nós.
Amar.
Sim, ele é meu autor favorito.
Eu o amo.
Sonhava conversar com ele, com aquele velhinho simpático, gorducho, bonachão.
Conversar com ele e com Zélia.
Acho que o amo tanto não só pelas obras, que também amo, por seus cenários coloridos e decadentes de cais e portos, de puteiros e rendez vouz, de malandros e doutores, putas e damas, mas também pela vida que viveu, e que Zélia contou nos livros de memórias, desde que se conheceram até a velhice.



Sim, ele é cheio de defeitos.
Cliches a não mais poder.
Cenários que no final da carreira, já se repetiram tanto que se tornariam cansativos, não fosse o amor que ele derrama em cada frase.

Eu o amo.
Com seus defeitos e virtudes.
Entre as virtudes, algumas que seriam defeitos.
Amo os personagens, amo a cor e o sabor.
Amo a vida que ele viveu.
Amo.

Sim.
Na verdade, não foi tão difícil.
Não se trata de um favorito escolhido por suas qualidades literárias, ou por seu teor de erudição.
Mas por tocar meu coração.
Jorge me toca ao som de um atabaque imaginário.
Me esquenta com o calor da Bahia de Todos os Santos.
Me acolhe em seu peito, com a quentura de uma tarde em Itapuã.

Jorge Amado me faz gozar.
Gozar em ser brasileira.
Gozar por ser mulher.

Me faz querer ser Gabriela, Rosa Palmeirão, Teresa Batista Cansada de Guerra, ser Dona Flor, ser Lívia, ser Tieta, ser Adalgisa, ser Maria Manuela, ser todas.
Ser mulher.

Estrela matutina. No cais o velho Francisco
balança a cabeça. Uma vez […] ele
viu Iemanjá, a dona do mar. E não é ela quem vai agora de pé no Paquete Voador?
Não é ela? É ela, sim. É Iemanjá quem vai ali. E o velho Francisco grita para os
outros no cais:
— Vejam! Vejam! É Janaína.
Olharam e viram. Dona Dulce olhou também da janela da escola. Viu uma
mulher forte que lutava. A luta era seu milagre. Começava a se realizar. No cais
os marítimos viam Iemanjá, a dos cinco nomes. O velho Francisco gritava, era a
segunda vez que ele a via.
Jorge me faz amar.
Jorge me faz amar o candomblé, a capoeira, o dendê.


 Jorge Amado.
Sim, Amado.

À frente de seu tempo, as mulheres de Amado.
Dera-se conta da vida das senhoras casadas, igual à da mãe. Sujeitas ao dono. Pior
do que freira. Malvina jurava para si mesma que jamais, jamais, nunca jamais se
deixaria prender. Conversavam no pátio do colégio, juvenis e risonhas, filhas de
pais ricos. Os irmãos na Bahia, nos ginásios e faculdades. Com direito a mesadas,
a gastar dinheiro, a tudo fazer. Elas só tinham para si aquele breve tempo de adolescência.
[…] Chegava um dia o pai com um amigo, acabava o namoro, começava
o noivado. Se não quisesse, o pai obrigava. Acontecia uma casar com o namorado,
quando os pais faziam gosto no rapaz. Mas em nada mudava a situação. Marido
trazido, escolhido pelo pai, ou noivo mandado pelo destino, era igual. Depois de
casada, não fazia diferença. Era o dono, o senhor, a ditar as leis, a ser obedecido.
Para eles os direitos, para elas o dever […]
Malvina, a personagem de Gabriela que se revolta com seu tempo, e foge, escapando de seu destino traçado naquelas Terras do Sem Fim. A primeira feminista que conheci e amei.


Amado me fez amar Caymmi e Clara Nunes.
 

"É doce morrer
no mar/nas ondas verdes do mar”

Amado.
Sim, é óbvio.
Eu o amo.
Amo o Velho Marinheiro.


No final, não tem dúvidas quanto a isso.
O amor não tem dúvidas.
O amor se atira, se dilacera.
Mas é o amor.

Que pode dona Flor dizer? “Vai-te embora, maldito, deixa-me honrada e feliz com
meu esposo” ou bem “Toma-me em teus braços, penetra minha última fortaleza,
teu beijo vale o preço de qualquer felicidade”, que lhe dizer? Por que cada criatura
se divide em duas, por que é necessário sempre se dilacerar entre dois amores, por
que o coração contém de uma só vez dois sentimentos, controversos e opostos?




Também estão participando:

Luciana, Niara, Marília, Tina Lopes, Rita, Cláudia, Grazi e Mayroses


Eu sou a Graúna
Pimenta com Limão
Mulher Alternativa
Pergunte ao Pixel
A Estrada Anil
Nem tão óbvio assim
Livros e opiniões
Mayroses

2 comentários:

  1. O blogger comeu meu comentário, mas eu tento de novo.


    Lindo post. Tudo que um dia eu gostaria de dizer sobre o Amado, você já o disse - e melhor. Ele me emociona. Nem sei se é um dos melhores autores que li, mas é um dos que me senti melhor lendo.

    "E assim adormece esse homem
    Que nunca precisa dormir pra sonhar..."

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  2. Esse post é todo amor! Li e saí meio que flutuando... Pode isso, produção? hahahahaha
    Adorei a tua declaração de amor e devoção ao Jorge Amado. Não está entre os meus favoritos porque entre ele e Érico Veríssimo minha escolha é (óbvia e bairrista) feita com a alma, com minha identidade gaúcha. Mas certamente ao reler Jorge Amado daqui pra frente, farei através do teu olhar amoroso. Beijo!

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