sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Um céu cheio de préas...


Dia 4 – the first book that make you cry ...

Antes de começar a falar sobre o livro, um aviso e uma declaração:  Eu sou chorona.
Sou manteiga derretida mesmo. Choro, literalmente, em comercial de margarina. Ok, talvez não de margarina, mas confesso que choro com comerciais, daqueles tipo da Nestlé, de família feliz, com bichinhos e vovozinhas, e bebezinhos rechonchudos.

Chorei em “O Rei Leão”, chorei em “Avatar”, chorei em Harry Potter (nos últimos, né, gente...) e chorei em “Marley e Eu”. Chorei de raiva em “A Zona do Crime”, em “Carandiru” e em “Tropa de Elite” – juro que chorei!

E sou chorona desde criança. Minha avó dizia que minha facilidade para verter lágrimas me faria ser atriz de novela. Ela queria dizer que eu chorava por qualquer bobagem, e chorava mesmo: Chorava quando ela matava as galinhas para fazer o almoço de domingo, chorava quando os gatinhos  que eu pegava na rua não sobreviviam. Para ela, criada na roça, matando porcos e dando à luz em casa, toando gado e batendo a manteiga, bichinhos eram luxos, momices. Só mais velha ela se apegou a um gato, o Chico, que virou seu companheiro inseparável.

O primeiro livro que me fez chorar? Não me lembro, mas acho que foi “Vidas secas”.
Só de lembrar da Baleia meus olhos ficam rasos.
Baleia, a pobre cadela dos pobres retirantes.
Pensar em Fabiano, o sertanejo, bruto, se emocionando ao ter que sacrificar a cadela... pootz.
Então, pode até ser que tenha sido outro, mas o que me lembro mesmo de ter chorado de soluçar, foi esse. Fabiano, as crianças, Siá Vitória...
 E Baleia.
Vejo Baleia em cada cão magro e sarnento abandonado na rua, que eu não consigo resgatar.
Vejo Baleia em cada criança vendendo balas no sinal. Em cada miserável puxando um carrinho de catador de papel.
Vejo Baleia em mim.
“A cachorra Baleia estava para morrer. Tinha emagrecido, o pêlo caíra em vários pontos, as costelas avultavam num fundo róseo, onde manchas escuras supuravam e sangravam, cobertas de moscas. As chagas da boca e a inchação dos beiços dificultavam-lhe a comida e a bebida. (...) Então Fabiano resolveu matá-la. Foi buscar a espingarda de pederneira, lixou-a, limpou-a com o saca-trapo e fez tenção de carregá-la bem para a cachorra não sofrer muito. Sinhá Vitória fechou-se na camarinha, rebocando os meninos assustados, que adivinhavam desgraça e não se cansavam de repetir a mesma pergunta: – Vão bulir com a Baleia? (...) Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme.”

É de chorar ou não?

A Lubisborboleta, a NiPimenta, a MariAlternativa e a Ritanil estão também no meme, que começou com a Tina Lopes, e ganhou hoje a adesão da Mayara.
Vem vc também, está delicioso!

3 comentários:

  1. Eu tb sou super chorona rs.
    Ontem tb comecei minha listinha, passa lá no blog p/ vc ver.

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  2. Menina, pegou pesado. Como comentei na Tina (legal que os gostos se cruzam, se aproximam e se afastam)o Graciliano Ramos e daqueles amores eternos, dos que marcam, deixam letras na alma da gente.

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  3. Terminei de ler Vidas Secas. E me senti mal. O conformismo de Fabiano, o sonho de conforto (cama) que Sinhá Vitória tinha, a curiosidade abafada dos meninos, a falta de diálogos e a lealdade trágica da Baleia me fizeram perceber que nós não estamos fudidos. Há desgraças muito mais pesadas que as nossas, que se agravam pelo simples fato dessas pessoas não saberem o porque de tanta desgraça.
    Baleia é todos aqueles que sabem que tem um osso na panela, mas ao invés do osso, lhe dão pontapés.
    Fabiano é aquele que se mata de trabalhar, achando que está fazendo o certo mas não entende porque nao lhe pagam o preço justo.
    Acreditavam em inferno, mas não sabiam explicar o que era.

    Um livro que arranha, que representa bem o contraste social que esse tal capitalismo causa:
    "Era como um desgraçado, como um cachorro, só recebia ossos.Por que seria que os homens ricos ainda lhe tomavam uma parte dos ossos? Fazia até nojo pessoas importantes se ocuparem com semelhantes porcarias."

    Poderíamos ter uma vida seca, mas nós somos Tomás da Bolandeira, que leu tanto livro, tanto jornal, sabia de tanta coisa, mas isso não evitou o inevitável: morrera por causa do estômago doente e das pernas fracas.

    Fabiano, Sinha Vitória, menino mais velho, menino mais novo e, principalmente Baleia, representam todo um povo, que acabam-se se ficam e acabam-se se vão.

    Enfim, um livro que me fez gostar menos ainda do mundo que vivo. Mas que também me incentivou a não aceitar tudo isso, porque eu sei o motivo de tanta desgraça e isso já faz grande diferença. Posso morrer sabendo do porque, que nem seu Tomás, mas vou morrer tentando mudar.

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