terça-feira, 28 de junho de 2011

Zumbis zombadores



As vezes, me sinto a única humana em uma imensidão de zumbis. Sem alma, sem coração, sem espírito, sem remorso ou outra emoção. Nada além da fome de devorar as emoções alheias.
Dementadores.
E sinto que fico à deriva.
Buscando compulsivamente encontrar outros  errantes, outros que sintam que algo estranho acontece no mundo.
Fico, nau à deriva, navegando solitária em um mar de indiferença, ódio, intolerância, impaciência.
Translúcida como um fantasma, lúcida como uma louca.
Arrasto velas devastadas pelo oceano as vezes agitado, outras plácido, mas nunca seguro, da existência.

Hoje é o dia mundial do Orgulho LGBT.
E, diante de tantas coisas horríveis que vem sendo ditas e feitas por pessoas que agem como verdadeiros zumbis, sem cérebro, sem alma, sem coração, me sinto ainda mais desolada.

Eles sim, os verdadeiros fantasmas de um passado que ainda não passou, que ainda traz para o presente, quiça para o futuro próximo, os vestígios de uma era que ainda não passou, e será que passará?

Hoje me lembrei de uma ocorrência, de abril, que ainda não foi encerrada, porque, com as ferramentas de que disponho, ainda não localizei os agressores.


Em plena estação do metrô, em um local onde param os "perueiros", com suas vans do transporte clandestino, dois rapazes passavam, de mãos dadas. Foram agredidos verbalmente, e quando questionaram, ousaram questionar, o motivo das frases grosseiras, foram agredidos fisicamente.


E pessoas passavam, e pessoas viam, e nada faziam.


E eu, hoje, me sinto como se nada pudesse fazer.
Os agressores fugiram. Não foram identificados.
Não houve solidariedade, ou fraternidade, ou qualquer sentimento do que eu costumo associar a... humanidade.

Houve só a indiferença, a desculpa de não querer se envolver, a desculpa de que eu não tenho nada com isso...


Até quando?
Até quando os templos reverberarão palavras vazias, rebuscadas ou toscas, de fé, amor, fraternidade, amor ao próximo?
Desde que o próximo não seja diferente de mim, pense diferente, se vista diferente, aja diferente?


Descobro, a cada dia, que meus privilégios não me são devidos, enquanto houver pessoas que não só tem fome de alimento, mas tem fome de alento. Fome de afeto, anseiam por poder expressar sem medo seu afeto, seu carinho, seu amor.


Ah,mas tem tantas causas no mundo, as criancinhas estão morrendo de fome... Sim, estão. E você, que me diz que eu não devo andar com gays e lésbicas, porque, ah, vai que todo mundo vai pensar que você também é...  aposto que não ajuda nem as criancinhas nem os velhinhos.


Posso quase apostar, que de dentro do seu carro, você buzina impaciente, quando vê manifestações, essa perda de tempo, esse povo vadio, sem ocupação....


Você quer acelerar e passar por cima, e voltar rapidinho para o seu prédio com porteiro e cerca elétrica, onde as únicas dores que entram são aquelas cuidadosamente dosadas pela programação da tv. Feita para eternecer e entorpecer.


Eu não me sinto mais tão sozinha. 
Tantas coisas me fizeram sair do meu mundo cor de rosa de classe média branca católica hétero, e nada me faz desejar voltar para minha bolha.
Não. 
Minto.


As vezes desejo sim, voltar para uma bolha onde esteja cega ás injustiças que acontecem do meu lado. 
Somente pensar nas criancinhas na África, ou nas mortes no Oriente Médio, e planejar a próxima viagem, e saber das novas tendências de moda e cabelo e maquiagem...


Mas não sou um zumbi.

E ninguém precisa ser.



sexta-feira, 17 de junho de 2011

Minhas considerações sobre o BlogProgMG, ou melhor, BloguemusMG


No último final de semana, da data comercial bem lucrativa que é o Dia dos Namorados, várias pessoas desistiram dos compromissos com companheir@s para participar do encontro de ativistas que aconteceu na sexta à noite e no sábado, o dia todo, se estendendo com os debates na mesa da famosa Cantina do Lucas, no edifício Malleta, em BH.

No encontro, cuja programação está disponível aqui, e que foi transmitido via streaming, mas infelizmente, por problemas técnicos, não foi gravado, mas contou com a participação de Renato Rovai, Eduardo Guimarães, Tulio Vianna, Cynthia Semíramis, Rogério Correia, Carlin Moura, Cido Araújo, Sérgio Telles, João Carlos Caribé, Nina Caetano, Marcelo Costa, Erika Pretes, Luana Diana Santos e esta que vos escreve.

Foto oficial do evento - Por Michael Rosa, no Flickr


Tivemos cinco mesas, contando com a de abertura.
Entre as coisas que discutimos, está o apoio irrestrito ao governo Dilma, do PT, partido que todos nós consideramos, em algum momento, o partido da esquerda no Brasil.

Eu voto no PT desde a primeira eleição da qual participei, em 1994 (a de 92 eu não pude, fiz 16 depois do prazo para inscrição). Sou filha de servidores públicos, professora da rede municipal de ensino e pai da rede federal (Soc. Economia Mista, extinta no gov. FHC)

Fui a manifestações da UBES e UNE em 92, a favor do impeachment, pintei a cara. Me considero de esquerda desde criancinha. Vi o Durval Angelo e o Ramon fazerem greve de fome, presenciei minha mãe e minhas tias tomarem jatos de água em manifestações de professores. 

Pode-se dizer que nasci de esquerda, ainda que tenha tido que lutar muito para me assumir feminista.

Porque, por incrível que pareça, a luta pelas bandeiras do feminismo, para mim, tão obviamente anti-status quo capitalista liberal (no sentido econômico) ortodoxo, a luta feminista, assim como outras, que somente descobri mais tarde, não anda junto com o movimento dito de esquerda.

Tudo bem, vá lá que o leque da “esquerda” seja amplo a ponto de encampar bandeiras distintas.

O feminismo, pelo que tenho aprendido nesse curto período de tempo desde que aprendi, inicialmente com a Cynthia, que aquele desconforto que sempre me cutucou, tinha nome, e tinha outras sofredoras (e sofredores) do mesmo mal, tem tantas correntes que é temerário que uma única se apresente como A corrente.
Assim como a esquerda.
Mas algo em comum a gente deve ter, para se identificar com algo tão... diáfano?
Mas já li em algum lugar que “tudo que é sólido se desmancha no ar”.

Toda esta introdução foi para dizer que os debates foram instigantes.
Obviamente, apesar de termos, lógico, inimigos em comum, temos também visões diferentes sobre o que é o apoio ao governo. Apoio a um governo de esquerda.

Estou com o Tulio Vianna. 
 
Mesa "Liberdade e Ativismo"  - Foto de Michael Rosa, no Flickr


Apóio ao governo Dilma, no que é possível, pois votei no governo Dilma, apesar de meus votos no governo Lula, nas duas vezes em que venceu, tenham sido minados por atos que premiaram ao capitalismo, ainda que com inclusão social.
Porque, como me manifestei quando tive oportunidade, os rumos da nossa esquerda tem me incomodado.

E ninguém traduziu melhor o meu desconforto do que o Marcos Nobre nete texto 

O recuo conservador que temos presenciado me assusta.

Não sei se antes estava em uma bolha, em uma redoma, mas nos cinco anos em que me tornei delegada de polícia em Minas Gerais, num governo de centro-direita (PSDB), que se alia a um partido tradicionalmente conservador (PFL-DEM), percebi que aquele desconforto sem nome que me acometia tinha um nome, sim.

Acho que posso chamá-lo de ser extrema-esquerda-incendiária...

Acredito que a inclusão social (já que ainda não há revolução possível... há?) não pode vir desacompanhada das demandas que alguns consideram “menores”: direitos humanos, direitos das mulheres, combate ao racismo, à homofobia, Estado Laico, liberdade de expressão com responsabilização, abertura dos arquivos da ditadura.

Diante do relativo abandono das causas das minorias, na base, vemos um avanço do reacionarismo, da intolerância, do desrespeito.
Pessoas que confundem liberdade de expressão com liberdade absoluta de ofensa?
Avanço de causas fundamentalistas como nunca vi antes no pais (ou estava eu alienada, confortável na minha bolha de estudante-universitária-concursanda-branca-hétero-classe média?)?
Por que, não lutar pelo direito à interrupção voluntária da gravidez?
Por que, não lutar pelo casamento igualitário?
Por que, não lutar, com todas as forças, contra o machismo e a violência contra a mulher, como o Equador, que foi citado como exemplo de mobilização na América Latina, o fez?
Dia 06 de maio de 2011, o STF julgou e reconheceu o direito, aos casais homoafetivos, do reconhecimento da união estável.
Dia 15 de junho de 2011 o STF julgou, pela ADPF 187, o direito à liberdade de expressão nas causas denominadas “Marchas da Maconha”, onde pessoas se manifestam pela descriminalização do uso da maconha.
Estamos na segunda década do século XXI. Já avançamos muito, considerando que somos uma democracia jovem, e que se formos contar de verdade, é praticamente o período mais longo de democracia que já vivemos, entre Império, Repúblicas Velhas e Novas, Estados Novos e velhos, ditaduras militares.

Temos que ter paciência? Talvez, claro.

Mas não temos que ser lenientes.
Causas como a abertura dos arquivos da ditadura, a punição aos torturadores, o casamento igualitário, a proteção às minorias, estamos atrasados até mesmo em relação àqueles países latino-americanos que nos vangloriamos de guiar nos rumos de políticas econômicas.
O resultado do Bloguemus? 

Ao meu ver, positivo.
Foi um evento com participação de minorias (mulheres, negros, LGBTTT) bem relevante.
Foi um evento crítico.
Não somos governo. Eu não sou. 
Sou cidadã. 

Sou eleitora de um governo. 
De um governo onde, desde sempre, venho depositando minhas esperanças em um Brasil melhor.


Não posso recuar agora, em meus sonhos e esperanças e atitudes por um Brasil melhor, para todos.
Em nome de um mítico “inimigo comum”, desdenhar os recuos de um governo que ajudei, ativamente, nas minhas medidas, a se consolidar.

E esse é o balanço inicial que faço do evento.

Espero que em BSB, mais vozes se façam ouvir.

Todos pelo avanço.
Todos contra o recuo.
Ainda que estratégico.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Essa mulher também, puta que pariu!!!

Eu vejo que aprendi
O quanto te ensinei
E é nos teus braços que ele vai saber

Não há por que voltar
Não penso em te seguir
Não quero mais a tua insensatez

O que fazes sem pensar aprendeste do olhar
E das palavras que guardei pra ti

Não penso em me vingar
Não sou assim

A tua insegurança era por mim
Não basta o compromisso
Vale mais o coração
Já que não me entendes, não me julgues
Não me tentes

O que sabes fazer agora
Veio tudo de nossas horas

Eu não minto, eu não sou assim
Ninguém sabia e ninguém viu
Que eu estava a teu lado então

Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher
Sou minha mãe e minha filha,
Minha irmã, minha menina
Mas sou minha, só minha e não de quem quiser
Sou Deus, tua deusa,meu amor

Alguma coisa aconteceu
Do ventre nasce um novo coração

Não penso em me vingar
Não sou assim

A tua insegurança era por mim
Não basta o compromisso
Vale mais o coração

Ninguém sabia, ninguém viu
Que eu estava ao teu lado então

Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher
Sou minha mãe e minha filha,
Minha irmã, minha menina
Mas sou minha, só minha e não de quem quiser
Sou Deus, tua deusa, meu amor

Baby, baby, baby, baby