quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Sobre ver o que queremos ver...

As vezes, quando aponto para algum amigo ou parente um aspecto de alguma coisa que achei machista, homofóbico ou racista, me dizem:
"Credo, mas também, você encontra pelo em ovo. Fica procurando chifre em cabeça de cavalo, nossa. Não tem nada disso, você está viajando."

E outro dia, andando pela cidade, estava reparando em quantos cães abandonados estão por aí, em todas as esquinas. Alguns mais gordinhos, outros esquálidos e assustados.

Eu sempre gostei de bichos. Sempre.
Mas depois que passei a tentar realmente ajudar, parece que eles pulam diante dos meus olhos, em todos os lugares.

Eu escolhi abrir os olhos, e o coração.
Então, quando eu assisto "Enrolados", e vejo a princesa boazinha Rapunzel e seus longos cabelos loiros e lisos, e vejo a vilã, com cabelos negros e crespos, bem...

Eu escolhi ver, poxa, que ali, sim, se reproduz um estereótipo do que é bom, belo, digno de ser amado, e do que é ruim, feio, indigno de amor e respeito.

Quando eu vejo a publicidade ridícula de uns tais "panos umedecidos" para limpar o iogurte derramado, e depois, pela rua, toda a mulherada (branca, claro) gritando e levando cartazes de U-HU! eeu fico sim, indignada.


Porque eu escolhi ver, sim, o que há por trás dessa aparentemente inofensiva e "engraçada" peça publicitária.


Eu escolhi ver.
Escolhi ver porque eu gosto de pensar que posso tentar ao menos fazer alguma coisa, nem que seja escrevendo umas poucas linhas, nem que seja falando para uma pequena platéia, sempre que posso, nem que seja para refletir sobre isso a cada instante no meu trabalho e tentar fazer diferente.

E aí, como eu escolhi ver, tudo isso pula, sim, na minha cara.
Todos os dias.
Como os pobres cães abandonados, que estão sempre no meu mural das redes sociais.

Talvez eu fosse outra pessoa, se tivesse escolhido fechar os olhos e o coração.
Talvez sofresse menos.
Talvez não.
Isso sempre esteve em mim, questionar o que está posto, querer saber o porque, sofrer quando não posso mudar nada.

Boa sorte para quem escolhe fechar os olhos, e achar que é piada, que é pelo em ovo, que é chifre em cabeça de cavalo.

Espero que um dia, não terminem chifrados pelo unicórnio que escolheram NÃO ver.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Queimando etapas mas terminando em tempo!

A Marília Moscou, do Mulher Alternativa e também da lista e do blog Blogueiras Feministas, lançou um meme comemorativo do primeiro aniversário do blog coletivo. Eu comecei certinho, mas acabei me enrolando com mudança e trabalho e blablabla whiskas sache... e me atrasei! Então hoje, vou postar os seis de uma vez!


Dia 1 - Quem foi a primeira blogueira feminista que você se lembra de

Dia 2 - Que blogueira feminista você ainda não conhece pessoalmente e
gostaria de conhecer?

A lista começou antes do segundo turno da eleição presidencial do ano passado, na qual foi eleita Dilma Roussef, a primeira presidenta do Brasil.
Eu já conhecia a Cynthia, e através do Twitter, que comecei a usar ativamente em meados de 2010, conheci também outras pessoas de BH que estavam participando da campanha. No dia 23 de outubro de 2010, participei de um evento da campanha, o “abraço da Contorno”, com eleitores de Dilma.
Pouco depois, entrei para a lista das Blogueiras Feministas.
E então, descobri o ser humano fantástico que é a Bianca Cardoso.
Mais jovem que eu em idade. Mas com uma sabedoria que ultrapassa qualquer medida. Sabedoria de saber a hora de intervir e a hora de deixar fluir. Sabedoria de dizer o que precisa ser dito, quando é preciso ser dito. E deixar fluir.
A experiência de um grupo autogestionado é nova pra mim, e pra mais gente, acredito, e acho que entre todas as pessoas fantásticas do grupo, quase 500, ninguém seria tão fenomenal no papel de moderadora da lista e editora do blog coletivo.
Sei também que a sobrecarregamos, claro, e sei que precisamos crescer e aprender a depender menos, e por isso, o agradecimento ENORME a você, Bianca Cardoso.

Ah, e devo dizer que não só conheci como dividi o quarto com essa moça!


Dia 3 - Qual o post que mais te surpreendeu ou apaixonou em nosso blog?

Vários me surpreenderam, vários me apaixonaram.

Os da Bárbara Lppes me dão uma sacudida, e trazem temas novos e nem tanto, mas com um olhar distinto.
Os da Cynthia, são fantásticos, especialmente os da série "Mitos do Feminismo". A "mulher" por trás do "mito".
Mas eu diria que o post da Luana sobre as mulheres negras foi um dos que me surpreendeu e me apaixonou, porque tirou a gente de uma zona de conforto, mas foi aquela sacudida necessária.

Dia 4 - Como você chegou até a lista e/ou até o blog? Através da Cynthia Semíramis

Graças à uma pós-graduação, escolhida meio ao acaso, tive a sorte de conhecer a Cynthia, e o resto, bem, o resto tá aqui...  nesse blog, no tt, na lista, no FB e principalmente, na vida.

Dia 5 - Como foi (ou como acha que será) o seu primeiro encontro ao vivo com uma BF?

Foi como encontrar uma grande amiga, que não via há tempos, mas com quem a conversa continua como se nunca houvesse sido interrompida.
A Cynthia eu já conhecia pessoalmente, mas não éramos próximas nem nada, só uma relação de professora-aluna, orientadora-orientanda.
Aqui em BH, combinamos de nos encontrar, e conheci a Rane, a Clarice, a Fernanda Marinho, a Lud Pizarro. Na marcha das Vadias, estivemos todas!

E em julho, raspei as milhas, juntei as malas e baixei em SP, especialmente para encontrar a Luciana Borboleta-Graúna-Gostosa Nepomuceno.
E foi bem do jeito que eu pensava, almas gêmeas e tudo mais... Conversa, cerveja, risada. Voltei pra BH com um sotaque cearense e uma vontade danada de trazer ela pros botecos de BH.
E, claro, além da Lu, ainda conheci, conversei e tomei cerveja com Bárbara-te-amo-pra-caraleo-Lopes, com a Bárbara Manoela, com a Iara, com a Marjorie, com a Deborah Sá, com a Mariana Rodrigues...
E foram como amigas lindas que fiquei um tempo sem ver e reencontrei!


Dia 6 - Qual a sua maior descoberta, em termos de feminismo, que veio pela lista ou pelo blog?



Não foi uma boa descoberta, mas foi necessária. Descobrir que o fato de sermos feministas não nos torna imunes a outras formas de manifestar opressão. A questão dos direitos humanos e também a questão da luta de classes, das empregadas domésticas e das mulheres negras. Queria que tudo viesse num pacote só, mas somos humanas e falíveis, ainda bem. Somos capazes de apreender e debater e crescer.
E sim, eu sou otimista, a maior parte do tempo, exceto quando sou pessimista e cética ao extremo na questão da natureza humana...

Dia 7 - Que assuntos você gostou mais de ver em nosso blog ou lista?

Ai, eu amo tudo!
Cada um me dá uma nova perspectiva, me abre uma nova possibilidade.
Os posts sobre psicanálise, os sobre a questão da informação e das redes, tantos aprendizados..
E os debates sobre psicanálise, sobre sociologia, os estudos, as fantásticas leituras que temos todos os dias, nossa, isso me encanta e me faz ter um pouquinho de fé na humanidade (lembrando que sou otimista mas sou cética tb, então, esse paradoxo é bem complicado pra mim de lidar... )






Bem, é isso!
Um ano de lista, um ano de blog coletivo.
Um ano de descobertas, carinho, risadas, cervejas virtuais e coletivas!
E o encontro ainda teve uma nova forma de revolução: a botecagem feminista!
Discutindo o futuro da humanidade em uma mesa de bar, onde sai de tudo!


Amo muito!



Também participaram do meme de aniversário a Luciana, a Rita e a Xênia, no FB.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Um ano, uma semana. Aniversário do Blogueiras Feministas


A Marília Moscou, do Mulher Alternativa e também da lista e do blog Blogueiras Feministas, lançou um meme comemorativo do primeiro aniversário do blog coletivo.


O meme da Marília tem sete itens, um para cada dia dessa semana, que inicia hoje, para mim, e que terá, amanhã e domingo, o 1º Encontro Nacional de Blogueiras Feministas, e lança o seguintes temas:

Dia 1 - Quem foi a primeira blogueira feminista que você se lembra de ter lido?
Dia 2 - Que blogueira feminista você ainda não conhece pessoalmente e gostaria de conhecer?
Dia 3 - Qual o post que mais te surpreendeu ou apaixonou em nosso blog?
Dia 4 - Como você chegou até a lista e/ou até o blog?
Dia 5 - Como foi (ou como acha que será) o seu primeiro encontro ao vivo com uma BF?
Dia 6 - Qual a sua maior descoberta, em termos de feminismo, que veio pela lista ou pelo blog?  
Dia 7 - Que assuntos você gostou mais de ver em nosso blog ou lista?  Por quê?

Eu começo agora, interrompendo mais ainda o meme já atrasado dos trinta livros em um mês (que vai se transformar em trinta livros em três meses...
Então, quem foi a primeira blogueira feminista que eu me lembro de ter lido?

Quem mais, senão ela? Cynthia Semíramis

Deixa eu contextualizar:
Estava eu fazendo uma pós-graduação latu sensu na ESDHC – Escola Superior Dom Helder Camara, em BH, sobre Segurança Pública e Polícia Comunitária. Maioria absoluta de homens, como é ainda nas carreiras e instituições ligadas diretamente à segurança pública, no Brasil.
Algumas aulas eram interessantes, outras, nem tanto. Alguns colegas eram bacanas, outros...

Eis que surge uma mulher, chamada Cynthia Semiramis, que iria ministrar a disciplina de metodologia. O ano era 2008. E eu tinha  só o Orkut como rede social.
O tirocínio policial de apurar quem eram os professores acometia a todos os alunos, e eu não fui exceção. Googlando, descobri o meu primeiro blog feminista.
E a partir dos links e das indicações, conheci o Luluzinha Camp. Fiquei louca para ir a um dos encontros, mas me senti intimidada.

E conheci a Lola. Aliás, o blog Escreva Lola, Escreva.
Nesse percurso, eu me arrisquei a começar um blog, despretensiosamente, em abril de 2010, este bloguinho aqui. Falando de tudo, e de nada. De sofrimento e de prazer. Dos grandes e dos pequenos, esses, de todo dia.

Quando me assumi uma blogueira feminista? Quando arrisquei participar do 4º Concurso do Escreva Lola Escreva, e falar sobre “A origem do meu feminismo”.
E o resto, bem, vocês sabem um pouco.
Graças ao blog eu me apaixonei, graças ao blog eu conheci gente fantástica, eu entrei para a lista, eu tive ajuda em momentos difíceis, de pessoas que se tornaram amigas mais do que queridas, amigas amadas mesmo. 

E não me canso de dizer: graças à Cynthia, que se tornou primeiro minha orientadora na monografia, e hoje, uma amiga querida.

A primeira blogueira feminista, e aquela que me ajudou a sair da bolha de desconforto sem nome na qual eu vivia. Hoje estou fora da bolha, e o desconforto é maior. Mas tem nome, e sei que tenho companhia nas grandes e pequenas batalhas do dia a dia, contra o machismo que mata, contra os preconceitos, contra a pequenez cotidiana.
Todos os dias me surpreendo (nem sempre pro bem, mas isso faz parte do aprendizado) e aprendo novas possibilidades. Todos os dias eu exercito a tolerância, o diálogo. Todos os dias eu dou mais um pequeno passo no caminho de uma militância mais ativa.
Mas isso é assunto para os outros dias do meme!
Parabéns, Blogueiras Feministas!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Último

Dia 20.
Último livro que li...
"A insustentável leveza do ser" - Milan Kundera

Havia assistido o filme, anos, décadas, uma vida inteira, atrás.
Cena do filme, com o lindo Daniel Day Lewis e Juliete Binoche
 Li - estou lendo - o livro.
Estou economizando nas páginas. Mas já estou nas últimas. E não quero que acabe. Mesmo já sabendo como vai acabar. Não quero me separar das páginas que poderiam ter feito minha vida diferente, hoje, se já as houvesse manuseado e digerido, antes.

Parece meio fútil, dizer que um livro poderia ter mudado minha vida.
Pode ser o momento em que o leio.
Pode ser a história que ele conta.

Não sei.

Sei que me sinto como Tereza, mas desejando ser Sabina.
Dói.
Ler "A Insustentável Leveza do Ser" dói.
Mas vale cada pontada, cada fisgada, cada lágrima derramada.
Não vou me arriscar a fazer uma análise. Não fiz em nenhum dos outros, não me sinto capaz de fazer nesse.
Esse é o último. Mas também é o primeiro.
Como tudo na vida.

Também estão participando (ou já terminaram):
A Tina Lopes, do Pergunte ao Pixel, a Lu, no Eu sou a Graúna, a Niara, do Pimenta com Limão,  a Rita, do Estrada Anil, a Marilia, do Mulher Alternativa, a Cláudia, do Nem tão óbvio assim, a Grazi, do Romanceando, a Mayara, do Mayroses, o Pádua Fernandes, do O palco e o mundo, e a Renata Lins, do Chopinho Feminino

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Inesperado

Day 18: A book no one would expect you to love 

Um livro que ninguém imaginaria que eu amasse?

Hum... já me disseram que acham que eu leio de tudo. E eu leio. Sou até meio avestruz, ou cabra, sei lá, algo que engole tudo sem digerir. 
Mas acho que um livro que ninguém imaginaria que eu gosto é a Biblía.
Sério. Eu adoro as histórias bizarras do Antigo Testamento. Ainda mais com a edição da Barsa, que tem várias imagens de pintores, de várias épocas, retratando cenas bíblicas. Sempre me intrigava, como é que o povo no deserto usava aquelas roupas renascentistas... só mais velha fui entender, né? 


Minha favorita é a da escrava Agar, seu filho Ismael, herdeiro do patriarca Abrão, antes dele virar Abraão e engravidar a velha Sarah, e aí nasceu Isaac, que quase foi morto em sacrifício, ao deus Jeová, esse sacana.
Sara entregando Agar para Abrão... Menage biblico? 
 Imaginem: 
Aí aparece o anjo para a velha Sara, a mesma que já tinha dado a sua escrava jovem para o marido fazer um filho... 
- Sara, vc vai engravidar.
- Ah, fala sério... to velha, Gabriel, a fonte já secou...
E o anjo:
- Sua incrédula! Vou te fulminar! Ops, não posso, esqueci que você vai ser mãe de um dos patriarcas e ele ainda não nasceu. Ok, to falando, o cara lá de cima, mandou avisar que vc vai ser MÃE, então não fica de mimim, tá bom?
-  Ok, ok...Não vou rir mais não, meu!
Aí nasce o menino.
E o pobre do Ismael é mandado embora, sem pensão. Sacana demais esse Abrão.
Abrão expulsando Agar e Ismael - Cadê a Maria da Penha, o MP, o Judiciário? Cadeia nesse velho, gente!
Aí, anos depois, o playboyzinho do Isaac babaca já crescidinho, vem o companheiro anjo, de novo, aquele sacana, e fala pro velho Abrão;
- Aí, velhinho, o cara mandou tu levar o moleque lá pra cima e deitar ele.
- Como assim,"deitar ele"?
- É, deitar, matar, sacrificar, oferecer em holocausto, como tu achar melhor, lá ligado?
- Mas por que? Meu filho, meu único filho! Oh, Senhor, não faça isso...
- O mané, tu tá desafiando o cara? Olha que ele te deita também, hein?
E vai o Abrão com o menino e uma faca lá pro monte.
-  Pai, pra que essa faca tão grande?
- É para enfiar no teu pescoço, filhinho.
- Epa, peraí, como assim?????
E aí, o velho já tinha colocado o moleque na pedra, porque, afinal, antes ele do que eu, pensava, provavelmente, e aí, pluft!
Abrão indo sacrificar Isaac - e o sacana do anjo, aparece "in extremis", em cima da hora, né? Adoro o timing bíblico...
Aparece o sacana do anjo, muito em cima da hora, e segura a faca, e fala:
- Era brincadeira, o cara lá em cima só queria testar sua lealdade, saca? Afinal, não podemos matar um dos patriarcas, dessa sua linhagem tão cegamente fiel virão milhares para matar e morrer em nome dele lá em cima, saca??


Pois é, a Biblia é cheia dessas pegadinhas... 
Por isso curto as histórias biblicas, especialmente as que fazem parte do Pentateuco. 
É tudo muito surreal... Anjos, testes, morte, sexo, incesto, vinho, apostas entre deus e o diabo, provações, salvação, blablabla...
E a Biblia é um clássico, gente!
Vejam quantas obras fantásticas foram inspiradas nela! 
Por isso eu gosto.
E aposto que vocês não imaginavam!!!

Day 19: Favorite nonfiction book


Aproveitando que estou embalada, vamos lá para o meu livro favorito de não-ficção.

Ex Libris, de Anne Fadiman



É um pequeno livro de ensaios, de uma autora estadunidense, e o subtítulo é "Confissões de uma leitora comum".

Comprei em 2002, e me inspirou muitas leituras, dos livro dos quais ela fala. 
São pequenos ensaios ou crônicas, sobre livros e leitores.

O primeiro fala de uma experiência marcante, e se chama: "Casando bibliotecas". 
Anne conta como ela e George, seu marido, depois de anos de casados e morando juntos, finalmente decidiram juntar as estantes, catalogar e organizar os livros, e doar os repetidos. Nossa, super definitivo, né?
E por aí vai. Dedicatórias de livros, um dos mais legais.
Erros de grafia.
Minha estante excêntrica. 
Ah, esse é um dos meus favoritos, e confesso que copiei alguns da estante de Anne, e comecei a ler sobre explorações polares, tema que depois derivou para livros sobre grandes escaladas, do Himalaia, do Aconcágua, do Annapurna, etc. Também alguns livros sobre estes temas estão entre meus favoritos de não ficção.

Quem esta participando deste desafio ou já acabou, se não conhece, recomendo muito!
É uma declaração de amor aos livros,  não só à literatura.
Leve, bem escrito, e com histórias ótimas. Vamos nos reconhecer em muitas delas!!
A parte sobre o sebo, eu me identifiquei total, e também quando ela conta que, na falta de absolutamente qualquer livro, pegou o manual de um carro para ler. Já passei por isso, e, confesso, o manual do carro é uma leitura fascinante... nem tanto,nem tanto, mas melhor que NADA. Já li também bulas de remédio e folhetos de testemunha de Jeová. Não recomendo!


Também estão participando (ou já terminaram): A Tina Lopes, do Pergunte ao Pixel, a Lu, no Eu sou a Graúna, a Niara, do Pimenta com Limão,  a Rita, do Estrada Anil, a Marilia, do Mulher Alternativa, a Cláudia, do Nem tão óbvio assim, a Grazi, do Romanceando, a Mayara, do Mayroses, o Pádua Fernandes, do O palco e o mundo, e a Renata Lins, do Chopinho Feminino

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Férias! Filmes! Prazeres proibidos!

O desafio de escrever sobre trinta livros em um mês eu já perdi.
Não tenho conseguido escrever todos os dias, e ainda estou na metade, mais de um mês depois de haver começado.
Acho que preciso de férias.
Férias lembra cinema.
E lembra prazeres "culpados".
Então, para me redimir desse período sem escrever, aproveito hoje para contar o meu livro de férias, meu livro favorito que virou filme e meu livro "pecado capital".

Férias, férias.
Férias na minha pré-adolescência... passar o primeiro dia enfiada na biblioteca, escolhendo quais seriam minhas companhias no período.
Escolhia pelo volume, pelo número maior de páginas, para durar mais tempo.
Nessa época eu li Tom Clancy e seus livros de espionagem, todos eles tijolaços. Li também a série "A Bicicleta Azul", plágio tão tosco do querido "E o vento levou..." que só fui ler já com mais de vinte anos...

Tom Clancy e suas obras viraram filmes, dois deles com o eterno "Indiana Jones" Harrison Ford.
Mas não são meus favoritos que foram filmados.
E o vento levou talvez seja.
E falando de prazeres de férias, eu lembro de um prazer culpado: "Férias", da Marian Keyes, que não virou filme, para meu pesar, que quando li pela primeira vez, fiz a escalação mental e a Catherine Zeta Jones seria a Rachel perfeita. Já o Luke, o namorado super másculo e ao mesmo tempo sensível, e lindo, até hoje não consigo achar um ator (conhecido) que pudesse corresponder às minhas expectativas de como ele é perfeito...

Bem, está ai.
Curto e grosso, três posts em um:

Livro de férias:
grossos volumes, para me entreterem por mais tempo. E de leitura leve, que não me façam pensar muito (salvo quando eu quero pensar muito, mas ultimamente eu queria tirar o cérebro enquanto deixo o corpo ali, presente, fazendo certas coisas mecanicamente, ouvindo certas coisas sem me importar, lendo certas palavras sem me magoar e irritar). Servem obras de tribunal, de espionagem tipo Clancy ou Le Carré, ou Frederic Forsyth, servem romances tipo Rosamund Pilch (sério, são tijolos super descritivos, que narram como é o barrado da cortina da sala, já aviso) e servem "chick lit" tipo Marian Keyes.


Livro que virou filme:

E o vento levou - Margareth Mitchel (enquadra também na categoria livro de férias, pelo volume (são mais de mil páginas). O filme retratou muito bem a obra, e tem a sempre maravilhosa Vivien Leigh, e o macho alfa Clark Gable. Eu choro com Scarlet. Sempre. Assistir "E o vento levou..." também me lembra a infância, as férias, a programação da tv do período, que sempre passava o filme no final do ano, e meu esforço para ficar acordada e assistir (dublado) até o final. E agora me deu vontade de fazer uma maratona de clássicos, começando com o magnífico... já estou ouvindo a música e lembrando das falas... Vamos, Luciana Borboleta?

O senhor dos Anéis -  Tolkien
Volume + descrições detalhadas da neve (né, Mari Moscou?) + heróis magníficos, uma luta do bem contra o mal, vilões muito muito maus, cenas de batalhas e de redenção.  Ainda assito sempre que me dá na telha, e releio tanto o livro que alguns trechos eu sei de cor. Tipo a frase do Gandalf para o Frodo sobre o Gollum, no SdA.

Trilogia Millenium - Stieg Larsen
Estou me adiantando e correndo o risco de pagar mico, porque a versão estadunidense só sai em dezembro, mas com o Daniel Craig fazendo o Blomkvist, tem chances de ser bom (ou péssimo, mas vale a pena, pela história fantástica. Já escrevi sobre a trilogia aqui, no Blogueiras Feministas. Os filmes suecos são ótimos, mas a gente fica curiosa com a produção hollywoodiana. Bem, pelo menos, eu fico. Aguardemos e oremos para as deusas nórdicas e para as Valquírias...

Tempo de Matar - John Grisham
Estava esquecendo de um dos culpados por eu haver decidido fazer o curso de Direito... 
Outro que entra na categoria férias também.
E Tempo de Matar, que virou filme, com o Mathew McConaughey, Samuel L. Jackson, Donald Sutherland, Sandra Bullock. 

Cidade de Deus - Paulo Lins
Já escrevi sobre o livro, em outro post, mas ele vale entrar de novo, porque foi um dos filmes, junto com Central do Brasil, que me fez voltar a gostar de cinema nacional. Sim, eu já falei que sou bem óbvia. 

Livro prazer "culpado"

São tantos! Afinal, eu tenho formação católica, e tomei "culpa" na mamadeira. 

Puxa, poderia começar com os que eram culpados porque eram lidos escondidos, subtraídos dos fundos da estante de minha tia. Judith Krantz, Sidney Sheldon, Harold Robbins. Tinham cenas de sexo, e uma adolescente de treze anos ler isso, bem, imaginem. Isso aí. 
Depois, descobri os romances de banca, que saciaram minha sede inesgotável por leitura e ainda rolava umas cenas quentes. E ainda eram recriminados, como literatura de segunda, então, citando uma música aí: "escondido é bem melhor, perigoso é divertido". E eu gastava a mesada com as revistinhas romance + softporn.

Fase adulta? De novo ela, Marian Keyes, e outras do elenco. Culpado porque são livros com histórias bobinhas, mesmo quando revestem temas sérios, como dependência química, alcoolismo, morte, separação, filhos, etc, etc, etc. A gente sabe que vai ter final feliz, e me sinto culpada por que na vida real, nem sempre tem final feliz. Mas azar, estou também aprendendo, na metade dos trinta, que a culpa é um peso que não preciso carregar, sabem?

Harry Potter, que ainda me sinto um pouquinho culpada por amar loucamente, já que é vendido por aí como livro de criança. Já falei em algum lugar também que além de óbvia, sou de Câncer, e super conectada com o passado. Então, acho que minha criança interior vive bem na superfície. E também, depois dos trinta, conheci tanta gente "adulta e respeitável" que curte os bruxinhos, que mandei culpa (quase) toda para as cucuias!


Chega.
Falei que seria curto e grosso, mas não consigo escrever pouco.
Defeito grave, mal crônico.

Mas, afinal, foram três pelo preço (custo?) de um.

Também estão brincando (ou já brincaram, né...) 
A linda da Tina Lopes, do Pergunte ao Pixel, que começou primeiro e eu segui
A gostosa da Luciana Nepomuceno, que inventou e divulgou esse lance, no Eu sou a Graúna
A querida Niara, do Pimenta com Limão
A gatíssima Cláudia, do Nem tão óbvio assim
A fofa da Rita, do Estrada Anil
A minha xará, Renata Lins, do Chopinho Feminino
A Mari Moscou, do Mulher Alternativa
A Grazi, do Livros e Opiniões
A Mayara, do Mayroses
E acho que estou esquecendo alguém...
Ah, sim, puta responsa linkar aqui, mas o Pádua Fernandes, dO palco e o mundo


Chopinho Feminino

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O direito ao aborto legal e seguro é direito da mulher

Cartaz da campanha de 2010, em Buenos Aires - Argentina (Foto: arquivo pessoal)

28 de setembro: Dia Latino americano pela legalização do aborto

Somente em 2010 tomei conhecimento desta data de luta, luta feminista, mas, mais que tudo, luta de qualquer pessoa que se considere defensora de Direitos Humanos.

A criminalização do aborto, no Brasil, mostra uma das faces mais cruéis do preconceito de classe e de gênero.

Mulheres de condição social mais elevada, com poder aquisitivo maior, há décadas podem realizar procedimentos seguros de interrupção da gravidez. As vítimas da criminalização do aborto são as mulheres pobres, moradoras de regiões sem recursos médicos, na maioria das vezes, negras. E sempre, as mulheres.

Seja ela vítima de um estupro, quando é "beneficiada" pelo artigo 28 do Código Penal, aquele que diz que "não se pune" o aborto praticado por médico, se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

 Não se pune, mas ainda é crime. Não se pune o médico. Mas a mulher, que foi vítima de estupro e engravidou em consequência, é punida de várias formas. Além de ter que passar pelo crime, terá que enfrentar a escolha de ter ou não o filho, sofrendo interferências mil, nessa decisão, que é pessoal, e não deveria ser submetida ao crivo de julgamentos morais e linchamentos religiosos.

Existe uma banda, em Minas Gerais, chamada "Tia Nastácia". Tocam rock, são desbocados, irreverentes, fazem até um som interessante. Nunca estouraram nacionalmente, mas tem um número razoável de fãs nos redutos. 

Pois não é que um dia, ouvindo uma coletânea de MP3 com a discografia, me deparei com uma música que se chama "Fazedora de Anjos", e trata de uma crítica ao abortamento? 

"Dor de alma como dói
Sofrimento é ganhar pão
E alma do anjinho chora
Que viu chegar sua hora
Entre porquês e razões


Ô mãe! Eles me aspiraram
Ô mãe! Você deixou curetar
Ô mãe! Me arrancaram em pedaços
Mamãe! Eu nem pode chorar."


Incrível. Não preciso dizer quão enorme foi meu desapontamento, ao perceber que eu um reduto que se pretende, digamos, contestador, os argumentos são contra a interrupção volutária da gravidez, e mais ainda, usam dos mesmos adjetivos dos fundamentalistas cristãos e ativistas "pró-vida".Anjinhos, bebês, a epítome "mãe" como o sinônimo de tudo o que é belo e tudo a que uma mulher pode e deve aspirar a ser.


Ano passado escrevi um post sobre o tema
No decorrer destes 12 meses, tivemos a eleição de uma mulher para a presidência da República. Uma mulher, eleita por um partido que se comprometia a discutir o tema do aborto e da descriminalização.
Tivemos um julgamento histórico, nas questões homoafetivas, que foi o reconhecimento da união estável aos casais do mesmo sexo.
Outro julgamento reconheceu que as "Marchas da Maconha" são legítimas manifestações da liberdade de expressão e manifestação.
A passos de tartaruga, algumas questões tem evoluído.
Mas, um ano depois, não houve nenhum avanço significativo na questão da legalização da interrupção voluntária da gravidez.
Ainda morrem centenas de mulheres (pobres) em decorrência de procedimentos rudimentares, sem condições de assepsia ou cuidados médicos adequados.
Ainda há um comércio muito lucrativo de medicamentos abortivos, para aquelas que podem pagar.
E ainda existem propostas no sentido de estipular que a vida em potencial, do nascituro, tem maior proteção que a vida de fato e de direito, da gestante

 Doloroso ler alguns textos de ativistas "pró-vida" e ler que o procedimento seria permitido "a qualquer momento da gestação", quando todos sabemos que não é assim que funciona, que um aborto legal tem um período para ser realizado, e que a mulher, desesperada, que aborta aos seis meses, o fará com ou sem a permissão do Estado, da igreja, da família. Porque essa mulher se vê sem opção. Porque essa mulher é pobre, muitas vezes é negra, e a questão da adoção no Brasil passa por tantas mazelas quanto qualquer outra questão social e de saúde pública. 

O direito ao aborto legal e seguro é direito da mulher. 
Porque ele faz parte de plataformas feministas, outras pessoas o disseram melhor do que eu poderia dizer agora. 


Campanha da Articulacion Feminista Marcosur
A mulher é sempre a responsável pela concepção. Seja ela casada, solteira ou vítima de estupro, sobre ela (nós) recaem as cobranças quanto a se "proteger" seja da gravidez, seja do estupro. Ensinam a mulher a temer, a agir de forma sorrateira, porque a discussão, no espaço público, de quais são as verdadeiras consequências de determinados atos, são, ainda, muito exclusivas do gênero masculino, e mesmo, de um olhar masculino. 

Ainda, no Brasil, como país eminentemente católico, temos a inaceitável interferência de lobbys religiosos em todos os aspectos da administração pública, em especial, no que se refere ao âmbito das relações íntimas (questões homoafetivas) e de saúde pública, no que tange à saúde da mulher, especificamente. A visão das igrejas sobre as mulheres ainda deixa muito a desejar.
Mas tudo bem. Se eu quero mudar a igreja, eu que participem, estude, questione. Ou não: eu que me acomode, porque afinal está na Bíblia que mulher tem que ser submissa, etc et al. 
Mas, se eu não participo, não quero ter nada a ver com instituições religiosas, e sou cidadã de um estado laico, que deveria prover os direitos e garantias indivíduais de todos, independente de opção religiosa, porque sou obrigada a me submeter aos ditames religiosos? E pior, aos ditames religiosos de dogmas estabelecidos por homens, sem participaçao ou debate feminino?
Sei que existe o "Católicas pelo Direito de Decidir", bem como outras organizações religiosas que apóiamo os movimentos pró-escolha.
Mas no geral, o que vemos é um fanatismo absurdo, e incoerente, que afeta, todos os anos, milhares de mulheres, no Brasil, privadas de seu legítimo direito à interrupção volutária da gravidez.

Este post foi elaborado em atendimento ao chamado para a Blogagem Coletiva: Pela Descriminalização e Legalização do Aborto

domingo, 25 de setembro de 2011

Esperar, ansiar, recordar. Um livro e a saudade.


Dias sem escrever nada. Cabeça fervilhando, semana puxada.
Tentando dar uma acelerada e falar sobre saudades.
Porque devo escrever sobre livros que me lembrem algo, alguma época, alguém.
E a saudade não é acelerada. Pelo contrário, a saudade é lenta, arde como fogo brando. Não é fogueira. É banho-maria.
Saudade é fogo brando.
Eu sou canceriana. Sou apegada ao passado.
E como diz Wally Salomão (que tenho que ler!), “a memória é uma ilha de edição”.
Eu pego as partes boas, mas não esqueço das ruins. As vezes elas se apagam sozinhas. As vezes, são minha dose diária de amargura. Vou ingerindo as memórias ruins, até que elas se tornem palatáveis.
Saudade é seletiva. Como uma ilha de edição, eu vou montando o filme, na minha cabeça, deixando só o que há de bom, porque na verdade, eu só gosto do amargo do chocolate. Da vida, eu quero o doce.
E saudade é doce.
Saudade é recordar. Recordar. A raiz é “cor”, coração.
Recordar, decorar, saber de cor.
Tudo a ver com saudade.
Saudade de uma época.
Um livro que me lembra uma época...
Todos. Cada um, um momento.
Mas já que estou falando de saudade, vou falar de um só livro, que me lembra uma época e uma pessoa.
Me lembra de um amor.
“O Matador”. Patrícia Melo.
Me lembra da ansiedade de esperar por alguém, por alguém que era perfeito na sua imperfeição. Me lembra de esperar pelo amor.

A  história bizarra de Máiquel, e sua trajetória no mundo do crime.
A história de amor entre o matador e Erica.
Morte, sangue, sujeira.
Bem, o amor veio e se foi. E o livro se foi com ele.
Agora, só ficou a memória.
A história real foi daquelas de contar na mesa de boteco, e ainda assombrar os ouvintes.
“Mas como!? Você foi louca! Mas que legal! Ah, não fica assim, você sabia que não ia durar para sempre... “
Sim. Foi efêmero.
Sim, eu amei.
E sim, Patrícia Melo sempre vai me lembrar daquela época. Da semana mágica entre planejar e esperar, e o começo dos meses que viriam.
Esperar, ansiosa. Excitada. Alucinada.
Planejar, executar, montar todo um castelo de cartas para receber uma pessoa, e construir uma ilha de fantasia no meio da árida realidade. Cerveja, vinho, sexo, beijos e abraços, livros e filmes. Música estranha, conversas de madrugada.
O castelo desabou. Sob uma avalanche de clichês.
Mas eu sempre terei Patricia, Maiquel e Érica.
 Também estão participando a Lu, a Niara, a Marília, a Tina Lopes (quem começou com esse meme, que acaba atraindo mais e mais gente a cada dia!), a Rita, a Cláudia, a Grazy e a Mayara!


Ah, e o Pádua Fernandes, do Palco e o Mundo, e agora, a Renata Lins, do Chopinho Feminino.