sábado, 16 de outubro de 2010

De volta à Matrix

Sábado.
Milhares de coisas pra fazer. Não consigo me concentrar.
Estou ainda desfazendo as malas.
Mas a bagagem interna vai ser mais difícil desfazer, e colocar no lugar as coisas que adquiri, e também, recuperar as que perdi.

Volto ao trabalho na terça-feira.
Voltar ao salto alto, aos terninhos, saias comportadas, comportamento de chefe, postura de Autoridade.
Sinto como se fosse duas, as vezes três.
Distúrbios graves de personalidade.

Depois que a gente se desconecta, não dá pra conectar de novo. 
É como deletar o Orkut. Depois tem que começar do zero.
A cada vez, recriar uma história. A cada vez, me reinventar, para ver se chego mais perto de ser quem realmente sou, ou melhor, de quem realmente quero ser.

Minha vida simples, descomplicada, com amigos, livros, cerveja e rock 'n roll.
Minha vida complicada, com chefes, prisões, sangue, sujeira, corrupção, porrada, abusos, bondade, gestos humanos em um ambiente desumano e degradante. E isso, no conforto do meu "gabinete".

Conciliar as duas, com ainda as complexidades de ser humana, falha, idiota as vezes, muitas vezes. Inconsequente, irresponsável total. Ingênua, burra. Inteligente, sábia, resolvo tudo. Procrastinadora, eficiente. 
Quem sou eu, afinal de contas? 
A Renata da Delegacia? Ou a Renata do SWU?

A Renata que sai sozinha, viaja sozinha, sem pacote, sem rede de proteção a não ser a proteção do cartão de crédito? (algumas vezes, essa é a única proteção, parece)

Ou a Renata que mora com os pais até hoje, que não criou coragem de juntar os trapos e arranjar um lugar só dela, porque no fundo, é uma mimada, que quer tudo na mão?

Sei lá que vai ler isso, como chegou aqui, se dá a mínima para isso tudo.
Ainda não encontrei meu lugar. 

Vontade de largar tudo, sabe, e ir vender água de coco na Bahia, dançar tango em Buenos Aires, juntar a alguma ong e ir para a África, prá India, pra longe daqui, onde a pobreza e a miséria batem todos os dias na minha porta, no meu trabalho, na janela do carro, aberta, ainda, porque eu sou doida, e ando de janela aberta ainda.

O pior é saber que isso vai passar, eu vou me conectar, e vou voltar para a vida de sempre. 
Pensar em como poderia ser é sempre excitante e angustiante. 
E então, a gente se conforma com o que é. 
Fazer o que?

Wake up?






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