quarta-feira, 14 de julho de 2010

Dia Mundial do Rock, emendando com a Queda da Bastilha

Quando eu era criança, li um livro chamado " A pequena princesa", de uma autora inglesa chamada Frances H. Burnett, escrito em 1905. Li não, devorei, e adoro até hoje.
A Sara Crewe, que é a "pequena princesa" do título, é uma menina inglesa, criada na Ìndia, cheia de luxo e mimos. Ela é orfã de mãe, desde o parto, e é o xodó do pai, um britânico rico (não se sabe o que ele faz, só que é rico, muito rico).
Quando a Sara completa cinco anos, ou sete, esqueci, ela é levada pelo pai para um internato na Inglaterra, dirigido por uma megera chamada Miss Minchin, e sua irmã, Amélia Minchin.
Lá Sara é mimada ao extremo, pelas gananciosas, tolas e interesseiras diretoras.
Só que ela, apesar de haver sido um pouco mimada pelo pai, é também doce, inteligente, sensível.
Sara lia desde novinha, e aprendeu de tudo nos livros, livros as vezes adultos demais para sua pouca idade.
Ela faz amizade com as excluídas do internato: Lottie, a caçulinha insuportável, Ermengarda, a gorducha bobinha, Becky, a criadinha explorada.
E desperta a inveja da até então aluna preferida, Lavinia.
Sara também percebe a avareza e a falsidade da diretora, e as duas nunca se dão bem, mesmo quando Sara era a aluna mais importante.
Só que o pai de Sara se envolve em um negócio de risco, fica doente, e morre na miséria.
E a notícia chega exatamente no dia do aniversário de 11 anos de Sara, quando foi preparada uma festa digna de uma princesa.
De um momento para outro, Sara passa de princesa a escrava.
E só tem o amparo de Becky, a criadinha.
Porque eu estou falando do livro?
Porque, antes de estudar a Revolução Francesa na 7ª série, já havia me interessado pelo tema através deste livrinho. E devorei na Barsa tudo que havia, sobre a França, sobre a Revolução, sobre Maria Antonieta, Danton, Robespierre, Napoleão. Então, se falar em Grécia me lembra mitologia, e Emília, falar em Bastilha me lembra A Pequena Princesa.

E hoje, já é a madrugada do dia 14 de julho, completando 221 anos da Queda da Bastilha.
Liberdade, Igualdade, Fraternidade.

Hoje estes ideais estão tão embotados, tão engessados.
Como se acabar com a monarquia fosse o fim dos privilégios.
Como se dizer que os homens são iguais, encerrasse as desigualdades.
Como se dizer, somos todos irmãos, fizesse realmente nascer a solidariedade.
Dois séculos depois, vivemos tantas conquistas, e tantas derrotas.
Os ideais da Tríade da Revolução se tornaram os motes das "gerações dos direitos humanos", em sua "afirmação histórica":

Primeira geração: Liberdade! Liberdade face ao Estado, ao rei. Liberdade para que o Estado NÃO me diga o que fazer, dizendo no máximo o que não fazer. É a Revolução liberal, Estado-mínimo mesmo. Liberdades civis. A igualdade é formal, e a solidariedade, uma utopia.

Segunda geração: Igualdade! Revolução Russa. Weimar, Constituição Mexicana! Marx, Engels, Rosa Luxemburgo. Comunistas, socialistas, anarquistas! Igualdade material, igualdade real.
E o Estado é novamente chamado a agir, para interferir e concretizar a igualdade entre os seres, seres estes distintos mas iguais. Mundo cão, homem lobo do homem. Lobo? Homem, "homem" do homem...

Terceira geração: Fraternidade!! Segunda guerra mundial, o Holocausto judeu, a bomba atômica, Hiroshima, Nagasaki. Destruição do homem pelo homem. Direitos da humanidade, direitos dos povos, autodeterminação. Fraternidade: somos irmãos, seres humanos, e nosso futuro depende dos atos de cada um.

Guerra Fria, muro de Berlim, Vietnã, Primavera de Praga, o IRA, o ETA, os hippies, Woodstock.
Yuppies, rappers, queda do muro, Perestroika, Glasnost, Irã contras. Ditaduras, ditabrandas, generais e brigadeiros, marechais e empresários, terroristas, torturadores... Anistia.
E camada de ozônio, internet, celular, globalização, intervenção, Iraque, Al-Qaeda, Afeganistão, Iraque de novo.
Bush pai, Bush filho, sociólogo, operário, negro, mulher?!
Quem sabe?

Dizem que tem aí uma quarta geração de direitos humanos.
E eu acredito. Uma nova era, de direitos transcendentais, que ultrapassam nossos direitos, nossas expectativas. Referem-se a algo que nos supera, refere-se ao futuro das novas gerações.

Enquanto isso, aqui do lado, recebo denúncias de cães maltratados, crianças violentadas, jovens viciados em crack.

Enquanto isso, Liberdade, Igualdade e Fraternidade continuam mais bonitos no livrinho da minha infância. Mais bonitos NA minha adolescência, quando eu acreditava que um partido de trabalhadores poderia mudar o Brasil.
Quando eu acreditava que uma passeata e uma canção poderiam mudar os rumos da nação, e antes de saber que a passeata e a canção foram manipuladas, e eu fui marionete.
Bem, o dia Mundial do Rock foi ontem, e foi escolhido devido a um festival, promovido para angariar fundos e lutar contra a fome na África, em 1985. Bob Geldolf, se não me engano, de uma banda punk britânica. Acho que li em algum lugar que ele virou "Sir".
Sid Vicious se revolta no túmulo.
E aí está explicada a vitória do capitalismo: dê ao revoltado um pouquinho daquilo contra o que ele se revolta, e você tem mais um adepto do sistema, que afinal de contas, não é tão ruim... será?

E o punk vira lord.

A pequena princesa só é princesa porque se manteve assim na adversidade.

Os nossos pequenos "lords" são incapazes de descer de seus tijolos, abrir mão de seus discursos e se perceberem realmente iguais aos súditos. Só somos iguais quando estamos por baixo, mas aí, sempre tem alguém mais baixo, na escala social do Bóris Casoy, e então, ah, tá tudo bem!
Se eu não tenho sapato, outro não tem pé.
E por aí vamos... e la nave vá...


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