sexta-feira, 16 de julho de 2010

A arte de negar

Dizer NÃO não é uma coisa fácil para mim.
Mas tive que aprender.
No trabalho, se quiser agradar todo mundo, me ferro total e completamente.

Ultimamente, como estou meio estressada, tenho até sentido algum prazer.
Vem o cara (nunca vi na vida, e foi entrando na minha sala como se fosse O cara).
Profissão: advogado? Não. Assessor de político? Não. Despachante.
E vem com a histórinha:
"Aqui, Dra., eu precisava que a senhora desse um despacho aqui, sabe, para liberar o veículo do pátio."
- Sei... E o senhor, quem é? (o dono do carro estava atrás dele, com uma carinha de coitado, cachorro que caiu da mudança... )
"Sou fulano de tal, despachante não sei aonde, mas eu estou aqui mais é para ajudar o rapaz aqui, sabe... É o seguinte, esse rapaz aqui, é trabalhador, sabe, e teve o carro apreendido... Tá aqui o recibo.... olha, tudo pago! A senhora podia liberar no reboque, né? E liberar as diárias, sabe..."



(Detalhe: recibo de transferência do veículo, aquele que tem que ter a firma reconhecida em cartório, e depois, tem trinta dias para transferir, senão é uma multinha básica de R$127,00 - sei porque já tomei uma, casa de ferreiro, espeto de pau - estava preenchido desde, sei lá, acho que novembro do ano passado. Diárias do pátio, que não é meu, e que eu NÃO posso liberar)
- Tá ok, ele está com o CRLV 2009 (documento de porte obrigatório, aqui em MG começa a vencer o prazo para portar o 2009 agora em julho)?
"Sabe o que acontece, Dra... ele só tem o de 2008... (opa, sabia!) Mas já está tudo pago, sabe, só tem essa multa aqui, sabe...
- Infelizmente, senhor, se não tem o CRLV 2009, não sai do pátio. Pega com o proprietário anterior. Melhor, paga a taxa de vistoria móvel, e já transfere o carro de uma vez, o documento 2010 fica pronto na hora, é só procurar a Ciretran. Aí o sr. volta, e eu libero o carro, normal, sem problemas, ok? (nisso minha gentileza táva acabando, o cara era do tipo que vai colocando a papelada na minha mesa, e se bobear, quer sentar na minha cadeira, não respeita o espaço individual não, pô?)
"Aqui, Dra, deixa eu te explicar uma coisa (o tom professoral, de quem vai me ensinar a lição do dia, ah, me talhou o sangue!)
- Olha, o senhor me desculpe, mas não precisa me explicar não. Casos como esse, são dez por dia. Só sai com a documentação em dia. Sinto muito (pro dono do carro), mas é a orientação que eu posso lhe dar, ok? E agora, se me dão licença, preciso terminar esse inquérito. Bom dia!




Cara, falando assim, parece grosseria e arrogância da minha parte. Juro que não é.
Mas esgota a paciência. A pessoa não me conhece, senão nem pedia.
Os dois despachantes que ficam em frente ao prédio onde eu trabalho, e que me conhecem desde que eu comecei, há quatro anos, não me pedem nada! Sabem que sou A chata.

E convivemos sem problemas, converso, numa boa, atendo, oriento, normal. Como atendo todo mundo que chega na minha sala, e olha, não é pouca gente.

E aí, chegam uns caras de fora, e querem forçar a barra, apelando para minha "caridade".
Gente, caridade é dar o que é seu. O pátio não é meu. Eu não isento ninguém de diária, a não ser que haja amparo legal! E pronto.
Não é não, ok?

Aproveitando o tema: veja aqui algumas dicas legais para quando for comprar ou vender seu veículo. Não entre em fria! Dúvidas, me mande e-mail, prometo que tento orientar ANTES de alguma coisa dar errado.
Porque, meus amigos, depois que o leite entorna, não adianta vir com mi-mi-mi... ok?



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