sábado, 15 de maio de 2010

Barulho!

Quarta-feira fui a um bar, em BH, o qual sempre frequento, chamado Jack Rock Bar.
Conheci na época de faculdade, quando ainda era só uma loja de motos, ou oficina, sei lá, com um balcão e uma jukebox com cd's de rock, e rolava uma cerveja sábado à tarde, depois da aula.
Ele mudou, fechou as paredes, tirou a jukebox e colocou um dj, um palco, passou a cobrar entrada.
Ficou legal. Continuo indo lá direto, com amigos antigos, e já fiz novas amizades por lá, também.

Na quarta em questão, tocou no local uma banda cover do Nirvana, chamada Nevermind.
Eu já os havia ouvido tocar, lá no Jack mesmo, e no Studio B.
A primeira vez, foi na quarta-feira, 21 de abril, feriado.
O Snowblind, banda de amigos, ia tocar (cover do Pearl Jam), e o Nevermind ia ser a segunda banda.

Este, na foto acima, é o Lucan, tocando no Snowblind.
Leo, do Snowblind, Pearl Jam, no Jack, em agosto de 2008.
André Aranha, guitarra do Snowblind, mesmo show, em 2008


Eles (o Nevermind) tocaram sem o baterista da formação, arranjaram na última hora o Lucan, que já tocou com várias bandas, de vez em quando tocava no Snowblind, mas nunca havia tocado com os caras do Nevermind. E eu tinha que trabalhar na quinta, então, me programei para assistir a primeira banda, e ir embora.
Claro que não rolou, né?
Fiquei até o final!
Quando começaram os primeiros acordes, gente, eu me senti de volta aos meus quinze anos, nas festinhas, nos showzinhos, onde sempre rolava Nirvana!

"With the lights out it's less dangerous
Here we are now entertain us
I feel stupid and contagious
Here we are now entertain us
A mulatto, an albino, a mosquito, my libido
Yeah! Yay! Yay!"

Curti até a última música!

Então, quarta passada, fui no Jack, de novo. Dessa vez era só Nevermind, então calculei que dava para curtir, voltar para casa, dormir, e estar de pé cedo, no dia seguinte, para meus compromissos profissionais (sim, mentes incrédulas, eu consegui acordar e cumprir minha agenda - meio ressaqueada, mas, enfim...)

Começou o show tarde, porque estava rolando o jogo entre Cruzeiro e São Paulo (permito-me uma ligeira zoada nos cruzeirenses: estão igual a praia de Marataízes - nem mineiro tem mais...)

Mas quando começou, foi incrível.
O vocalista, acho que o nome dele é Marco, tem uma aparência frágil, uma voz normal, e não parece que vai conseguir levar as pesadas, com a rouquidão do Kurt. Mas consegue. Como consegue.
No primeiro show, eu brinquei com ele, dizendo que se ele fosse mais novo, eu diria que o Kurt encarnou nele (exagero, claro, mas sem drama não tem graça!).

E durante o repertório do show, me peguei refletindo, diante das guitarras distorcidas e dos gritos, sobre o momento em que o ruído, o barulho, se torna melodia, se torna música.

Não toco um instrumento (sou louca para tocar baixo, acho show, mas não toco), e não entendo de música, só gosto.

E, meus amigos, foi por saber exatamente este limite que o Nirvana foi o marco que foi na história do Rock.

Foi o único marco que presenciei, e não me lembro de haver ocorrido outro, no mesmo patamar, nestes vinte anos, desde Bleach, em 89.

O som do Nirvana, apesar de (ou talvez por ser) super distorcido, é extremamente melódico!
E as letras, simples e diretas, falam com o coração adolescente ( e todo roqueiro tem muito vivo dentro de si o adolescente, transgressor... bem, pelo menos, eu tenho!)

Lembrei então de uma relíquia que tenho nas estantes: o livro Barulho: uma viagem pelo underground do rock americano, do jornalista André Barcinski.
Na época, não havia internet, senão em filmes. Sim, ainda havia fanzines, em papel de xerox (ah, Hanoi!). E a revista Bizz era a top de linha em publicações de música.

O livro conta a viagem do jornalista, com outros dois amigos (Alexandre Rossi e Angelo Rossi), por dois meses, nos EUA, viajando de costa a costa, trocando idéias com Joey Ramone, Jello Biafra, Red Hot Chilli Peppers, Cramps, assistindo a shows das bandas que se tornaram ícones de uma geração - Nirvana, Mudhoney, Red Hot, entre outras).

Tem fotos incríveis.

Mas o que me lembro do livro foi a passagem em que ele conta que havia descoberto o Nirvana, antes do lançamento de Nevermind, e ligou para os agentes dos caras, antes de começar a viagem, para marcar uma entrevista. E recebeu como resposta, que não precisava, que tava tranquilo, depois do show ele pagava uma cerveja e conversava com os caras.
E nos poucos meses que demorou para chegar a Seattle, Nevermind estourou nas paradas, "Smells like teen spirit" tocava em todo lugar, e o showzinho, que era para ser tranquilo, foi uma loucura.

Cara, como eu INVEJO o André Barcinski! (antes de fazer direito, queria ser jornalista, por causa principalmente dele e da Ana Maria Bahiana, que fazia as premiéres de Hollywood para a revista Set)

Não fui aos shows do Nirvana no Brasil (mamãe não deixou, buaáááá!)
Mas, fechando os olhos, dá pra se imaginar em um lugar qualquer de Seattle, no início de 1990, ouvindo Kurt, Chris e David, tocando para duzentas ou trezentas pessoas).
Quero que o Jack coloque os caras para tocar na sexta, ou mesmo no sábado, com a casa cheia.
E ao mesmo tempo, quero que eles continuem um segredinho das quartas-feiras, para os poucos privilegiados que podem se dar ao luxo de chegar no trampo depois das nove, ou que ainda aguentam o rojão de uma noite sem dormir, e trabalhar no dia seguinte. Mas isso seria egoísmo.

Não tenho fotos, mas assim que tiver, coloco aqui.
Quem for de BH, não perca: Nevermind, toca Nirvana. Vale a pena.

Um comentário:

  1. Jack Rock Bar...
    sem duvida o lugar que mais gosto de sair em BH!!
    Vamos combinar de ir juntas um dia...hehehe

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